NA ANTESSALA DA FALA
A palavra mínima-
mente compreendida
pelos astutos olhos
qpasseiam catalog
ando tudo qse
passa na sala
na antessala da f
ala, o rosto guarda-
do na mala, o (se-
creto) vazio do que,
de tão escondido, perd
ido caminha na hs...
É tudo tão claro,
mas tá escuro lá f
ora onde o que ainda
arde se parte
em parte
s:
o que é vil
o que é arte
(À) ESPREITA
O espaço da palavra
a palavra que ‘zás’
e crave no parco o alvo
do arco
, mas antes
a palavra e s p a c i a l
o percurso incauto do voo
a salvo.
A palavra a v e
mais que a palavra-
chave da palavra
estreita.
a palavra sem fala
(à) espreita.
SALA DE ESPERA
?
o que será
o homem
será o homem
um verme
será o homem
do verme
será o verme
do homem
ou será o homem
o verme
o verme
de outro homem
?
DESEMPREGADO
desempregado
sempre gado
sem gato
por lebre
sem eros
nem febre
sem nada
qfale na fala
NATUREZA MORTA
O peixe vermelho
e azul no aquário
o menino e o gesto
no átimo de ser expresso
mas o olhar da mãe
sobre a xícara de café
subitamente em si
desviou-lhe o reflexo
seus olhos de criança
que se sabe se perd
eram na ubiqüidade
do que não se esquece
um quadro na parede
da infância onde
uma fruta na mesa
não apodrece
ao lado uma estante
com grandes livros falsos
algo no encalço
do que não se procura
e se esse aquário não exist
isse e se esse menino part
isse e se essa sala fic
asse escura?
A CIDADE ADORMECIDA
Não somos mais humanos
somos urbanos
esta é a lei
a forma que encontramos
de olhar o mar de dentro
de arranha-céus de vidro
os códigos são visíveis
os excluídos expostos
o espetáculo a olho nu
(aqui não pago promessas
não há muros para lamentações
e eu estou perdendo o jeito de chorar
o ângulo
)
DA VERDADE NO ESPELHO
no espelho
uma lágrima
é imagem transparente
não é pranto
importa o ardor
com que corre
jamais a dor
do que morre
não importa
se morta
a outra face
mas o disfarce
que no espelho
nasce
MACABÉA NÃO MORREU
Macabéa só sabia mesmo
era chover, sem sal,
o único verbo possível
era esse impessoal.
Ela que de sua pessoa
não sabia nem soletrar,
e era de tal modo invisível
que não se podia tocar.
Em vão, como leitor
passei a imaginar
(escrever?) o grito de luz
que a moça iria dar.
Mas chegando ao final
como quem então acorda
- até tu, Brutus?
uma lágrima me aborda.
Sim, estou apaixonado:
Macabéa não morreu!
Eu sei o segredo
e é entre ela e eu.
O POETA
O estranho homem cinzento
desperta sempre mais cedo.
Não ri, não tem mais tempo
pra contar nenhum segredo.
O estranho homem cinzento
vai pelo escuro, sem medo.
Não quer mais tocar o vento
romper os fios do rochedo.
O corpo sobre os pés no chão!
Este homem se ostenta sério!
- Terno, mas cinza; ele olha
por cima! Ao buscar novos critérios
fareja o objeto como um cão:
sem gestos. Mas atento!