quinta-feira, 23 de julho de 2015

onde você se diz inconfessável

 
onde você se diz inconfessável 

 
 
 
 
 
foi outro dia moço
 
 
foi outro dia moço  
ainda bem moço
 
 eu com mil sonhos
no travesseiro
nem a lua se perdia
nem o sol posto
e o meu mundo
era ele todo inteiro
 
foi outro dia moço
eu era um garoto
 
  raspei a barba
sem um fio primeiro
e eu não tinha
nenhuma marca no rosto
deixei parte de mim
em um banheiro
 
foi outro dia
quando poço era poço
 
e era um lugar
proibido no terreiro
minha mãe
gritava para o almoço
‘tá na sala
aquele seu amigo moço’
 
eu só queria ver
o fundo do espelho
eu devia ter ouvido
algum conselho
 
 
   
eu sou só um homem só
 
 
se eu disser eu sou só
um homem só sem espelho
na parede e o que vejo
sempre se distancia
 
na medida do desejo
eu não me meço
moço eu não me perco
viver é vasto de ser


 
pequeno verme

 
 

o vermelho é a única cor
que morre
morre
quando o amor acaba
a paixão evapora
algo em nós como o vermelho
sempre vai embora
 

o vermelho lodo
ferrugem
no que ruge
fogo entre  a brasa e a cinza
a rosa mais linda
o orvalho no princípio
do que finda

 
o vermelho pequeno verme
cor primeira
é também a derradeira
na distante cordilheira
ou nos versos do poeta
ontem ali mesmo
além da ribeira
 

o vermelho arte pop
punk no cabelo
do velho
que caiu
grito que do céu da boca
partiu como uma canção rouca
viajando em direção a marte
 

o vermelho mais distante ainda
de uma estrela gigante
sem saber errante
que alguém ousou pisar na lua
e agora e para sempre
o homem
ficou mais triste na rua

 

  

no escuro

 

 
onde estava você quando de repente esfriou
e já era noite?
seu olhar deveria dizer seus caminhos
percorridos de dias ausentes
 

não sei porque me parece insuportável
estar ao seu lado que já não diz
quando o que mais dói é não estar ao seu lado
não estar ao seu lado dói só de pensar
 

e agora você chega e eu não sei suportar
algo desespera em um despencar
revirando seus silêncios seu jeito novo sem
canção sem rumo sem direção
 

onde você estava quando o inverno chegou e
eu sozinho na madrugada?
sua boca bem sabia paisagens e vinhos
de sabores mais quentes
 

ah o uivo do lobo no peito o amor pede socorro
eu corro inseguro sem sua estrada
eu furo seu alvo eu salvo seu muro de caco de
vidro me corta seu beijo no escuro
 
 
 

parede

 
 

quando está tudo escuro
eu tenho sede

 
 
 
onde você se diz inconfessável
 
 
onde você se diz inconfessável
foi sempre onde me fascinou
e eu vou por todas as cidades
Bogotá Paris Roma Moscou
 
tolo amante implorando de joelhos
seu carinho abraçado de ventos
e meus olhos reaprendendo outras
palavras de feridas e silêncios
 
feito diamantes em crepúsculos
meus olhos em lágrimas que caem
busco imagens suas depois de ter
 
virado as páginas delineando vultos
você dormindo de lado revirando
e chegando ao meu sono de bruços
 
 
vermelho
 
 
eu não sabia que amar
doía tanto
nem que partir deixava
tanto pranto
 
sou desses homens soltos
sozinho
desde nascido menino
não me adivinho
 
entre os meus olhos outros
mais castanhos
vejo verdes desejos
azuis estranhos
 
 
se eu dissesse que amei
aquele gesto
e ainda carrego
mas não confesso
 
meu corpo ali parado
e o oceano
não soube responder
também te amo
 
falei do encontro das águas
com o rochedo
do sol deixando em tudo
o seu vermelho
 


 
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