quinta-feira, 12 de maio de 2022

A CASA ESTRANHA DE CLARICE

 

 


 

 Nós os sonsos essenciais matamos

Enquanto supostamente protegidos

Cometemos nosso crime particular

Silenciados sobrevivemos omissos

 

13 tiros nessa velha rua sem saída

E nada do que ouvimos e assistimos

Se os policiais chegaram atirando

Agora somos todos nós assassinos

 

Matamos tantos meninos e rimos

No tabuleiro de perdas e ganhos

Abandonamos sonhos e destinos

Andamos perigosamente estranhos

 

Não somos mais que tristes interinos

Em cada gatilho que longe apertamos

Matamos tantos meninos e rimos

Mas temos pessoas que amamos

 


sábado, 26 de março de 2022

CONEXÕES EM LOCKDOWN


 A vida tem milagres possíveis. 

quinta-feira, 17 de março de 2022

INVEJA





Hoje eu me consumi de inveja 
Na verdade 
Alguns poucos minutos atrás 
Fui tomado dela 
Megera 
Algoz do ego 
Num transe cego 
Num duplo carpado mortal 
Fiquei lendo comentários de surpresa e felicidade 
De amigos e conhecidos do novo casal 
Oficializado na rede 

Fui tomado de inveja 
E nem sabia direito de quem se tratava 
Mas aquele encontro 
Revelava os meus desencontros 
A procura ainda em que eu estava 
No banheiro 
Fugi do espelho 
Fui tomado por ela 
Fiquei desconcertado 
Sem saber o que havia de errado 
Senti no azulejo 
O frio silencioso de toda parede 

Dei descarga na minha inveja 
Falei pra mim mesmo 
Merda, cara! 
Que grande merda 
O amor já fez a sua despedida 
Não foi bom 
Não foi mau 
Não foi nada 
Mas quem é que fez por merecer? 
Pare! Olhe e veja: 
É humana a nossa repetida sede

quarta-feira, 16 de março de 2022

BLECAUTE

A voz já desmantelada do infinito agudo O prelúdio lamentavelmente confuso. Tem luz, mas agora eu quero ficar no escuro.

TOQUE DE RECOLHER

A morte sempre impôs um diálogo respeitoso. Com a morte não se brinca, também sempre disseram. Eu deveria compor um poema que abarcasse minha cidade, meu país Um canto além das Américas atravessando mares e cordilheiras dos continentes. Coubesse o mundo em minhas mãos e abriria a porta de casa para que repousassem nos meus abraços Despedaçados. Amigos, sei o abandono de tudo. Olho para o mundo lá fora da minha janela. A paisagem embruscada com um restante de sol a pôr alguma luz no verde. A terra está triste E de alguma forma dentro de mim resiste um desejo de tomar um banho de chuva Cara lavada, alma lavada Mas a lágrima ainda no espelho A gente nunca soube ser feliz Agora o sinal ficou vermelho

A MULHER E O FIM DO MUNDO

Mulher, qual é o seu preço? – Desconheço. Você vem de onde? – Do planeta fome. Você não se esconde – Às vezes me perco. Vejo a raiz dos seus cabelos! - Perdi o medo. Seu corpo parece suportar dores. – Eu canto. “Flores, tapas, pontapés!” - Nunca de joelhos. Sabidos os rouxinóis. - Mas não sabem de nós. Sinfonia de pardais. - Já não cantam mais. Se dói tanto por que não chora? – Sei quando rio. E seus filhos estão vivos? – Alguns mortos. Nem um amigo sincero? – Eu tenho Deus! Seguiu sem lar nem abrigo? - Fui pelos portos. Como pode irreverente liberdade? – Foi tarde. E esse jeito de ainda ser? – Também me desespero. Mas a mulher do fim do mundo na avenida? - Sou eu pedindo o celular para ligar para 180 Mataram o amor! - Muito mais de 7 vezes 70 vezes 7 mataram o amor de sacanagem Quem poderá saber aquele amor? - Não sei. Sei que ele ainda “dói para fora da paisagem”