segunda-feira, 4 de julho de 2011

NA ANTESSALA DA FALA


NA ANTESSALA DA FALA



A palavra mínima-

mente compreendida

pelos astutos olhos

qpasseiam catalog

ando tudo qse

passa na sala

na antessala da f

ala, o rosto guarda-

do na mala, o (se-

creto) vazio do que,

de tão escondido, perd

ido caminha na hs...

É tudo tão claro,

mas tá escuro lá f

ora onde o que ainda

arde se parte

em parte

s:

o que é vil

o que é arte



(À) ESPREITA


O espaço da palavra

a palavra que ‘zás’

e crave no parco o alvo

do arco

, mas antes

a palavra e s p a c i a l

o percurso incauto do voo

a salvo.

A palavra a v e

mais que a palavra-

chave da palavra

estreita.

a palavra sem fala

(à) espreita.



SALA DE ESPERA



?

o que será

o homem

será o homem

um verme


será o homem

do verme

será o verme

do homem


ou será o homem

o verme

o verme

de outro homem

?


DESEMPREGADO



desempregado

sempre gado
sem gato

por lebre
sem eros
nem febre

sem nada
qfale na fala


NATUREZA MORTA


O peixe vermelho

e azul no aquário

o menino e o gesto

no átimo de ser expresso

mas o olhar da mãe

sobre a xícara de café

subitamente em si

desviou-lhe o reflexo

seus olhos de criança

que se sabe se perd

eram na ubiqüidade

do que não se esquece

um quadro na parede

da infância onde

uma fruta na mesa

não apodrece

ao lado uma estante

com grandes livros falsos

algo no encalço

do que não se procura

e se esse aquário não exist

isse e se esse menino part

isse e se essa sala fic

asse escura?




A CIDADE ADORMECIDA



Não somos mais humanos

somos urbanos

esta é a lei

a forma que encontramos

de olhar o mar de dentro

de arranha-céus de vidro

os códigos são visíveis

os excluídos expostos

o espetáculo a olho nu

(aqui não pago promessas

não há muros para lamentações

e eu estou perdendo o jeito de chorar

o ângulo

)



DA VERDADE NO ESPELHO



no espelho

uma lágrima

é imagem transparente

não é pranto

importa o ardor

com que corre

jamais a dor

do que morre

não importa

se morta

a outra face

mas o disfarce

que no espelho

nasce


MACABÉA NÃO MORREU




Macabéa só sabia mesmo

era chover, sem sal,

o único verbo possível

era esse impessoal.

Ela que de sua pessoa

não sabia nem soletrar,

e era de tal modo invisível

que não se podia tocar.

Em vão, como leitor

passei a imaginar

(escrever?) o grito de luz

que a moça iria dar.

Mas chegando ao final

como quem então acorda

- até tu, Brutus?

uma lágrima me aborda.

Sim, estou apaixonado:

Macabéa não morreu!

Eu sei o segredo

e é entre ela e eu.





O POETA



O estranho homem cinzento

desperta sempre mais cedo.

Não ri, não tem mais tempo

pra contar nenhum segredo.


O estranho homem cinzento

vai pelo escuro, sem medo.

Não quer mais tocar o vento

romper os fios do rochedo.


O corpo sobre os pés no chão!

Este homem se ostenta sério!

- Terno, mas cinza; ele olha


por cima! Ao buscar novos critérios

fareja o objeto como um cão:

sem gestos. Mas atento!