quarta-feira, 1 de novembro de 2017



DE CERTO




  
Eu confio nas pedras
Bem longe das mãos
Prefiro estar sobre elas
Sob os pés ou deitado
Eu confio no sonho
Que não é lembrado
Não será lembrado
Será somente sonhado

Eu confio nos sábios
No silêncio dos lábios
Eu confio porque confio
Naquilo que nem sei
Eu confio nos signos
E mesmo em crenças
Como a tecer um fio
Que de certo já rezei

Eu confio e não há nada
Mais bonito nem tigre
Nem águia nem cavalo
Acima de todas as manadas
Eu confio no que é rio
A fonte do nosso oceano
Repara: não há cor
Na alma nem nas lágrimas

Eu confio na poesia
Que adia o dia dia-a-dia
A música desse cansaço
Em notas renhidas
Eu confio nas vidas
Das mil e uma vividas
Vestidas em uma só
De dobras e despedidas

Eu confio na palavra
Dada ou abandonada
Dobro minha prosa
E aceito essa canção
Eu confio em tudo e não
Vejo as flores e espinhos
Delirantes noites e vinhos
Que humanamente são

Eu confio sem esperar
Sem ao menos esperança
Nas frontes encosto o gelo
Derretendo no terraço
Eu confio. Pode acreditar
Tudo passou assim
Como tudo passa no fim
Também eu passo



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