DE CERTO
Eu
confio nas pedras
Bem
longe das mãos
Prefiro
estar sobre elas
Sob
os pés ou deitado
Eu
confio no sonho
Que
não é lembrado
Não
será lembrado
Será
somente sonhado
Eu
confio nos sábios
No
silêncio dos lábios
Eu
confio porque confio
Naquilo
que nem sei
Eu
confio nos signos
E
mesmo em crenças
Como
a tecer um fio
Que
de certo já rezei
Eu
confio e não há nada
Mais
bonito nem tigre
Nem
águia nem cavalo
Acima
de todas as manadas
Eu
confio no que é rio
A
fonte do nosso oceano
Repara:
não há cor
Na
alma nem nas lágrimas
Eu
confio na poesia
Que
adia o dia dia-a-dia
A
música desse cansaço
Em
notas renhidas
Eu
confio nas vidas
Das
mil e uma vividas
Vestidas
em uma só
De
dobras e despedidas
Eu
confio na palavra
Dada
ou abandonada
Dobro
minha prosa
E
aceito essa canção
Eu
confio em tudo e não
Vejo
as flores e espinhos
Delirantes
noites e vinhos
Que
humanamente são
Eu
confio sem esperar
Sem
ao menos esperança
Nas
frontes encosto o gelo
Derretendo
no terraço
Eu
confio. Pode acreditar
Tudo
passou assim
Como
tudo passa no fim
Também
eu passo
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