SONETO NO VELHO DO ESPELHO
Não, não é tarde. Olha! Sua pele
anda pálida de outros companheiros.
Deixa por um momento o que não fere,
parte se não são ao todo dois inteiros.
Loucura será a noite nas estrelas,
a prece que acolhe a fé dos romeiros,
ser amor com amor depois de vê-las,
os anjos que nos chamam seresteiros.
A emenda sem soneto o leite entorna
na borda dos seus sons, dos seus sineiros...
Ouça a oração que a dor adorna.
O amor não dorme. Ele põe a corda!
As baratinhas no velho do espelho...
Não se dá conselho (não eu). Mas acorda!
DEUS LHE PAGUE
Eu mendigo
Tu mendigas
Ele mendiga
Nós mendigamos
Vós mendigais
Eles mendigam
Eu amém digo
Tu amém digas
Ele amém diga
Nós amém digamos
Vós amém digais
Eles também
Eles amém
Depois nem
EU (Inconfidente)
Rio ao contrário, de noite sou água,
qual veio de dentro do canto das Iaras.
Sim! Sou pactuário. Não do diabo,
mas do deserto seco das palavras.
Mino entre montanhas, sol do meio-dia,
seja vale ou correnteza a espora da poesia.
Nas crinas que vento o mar imaginário
pensamentos são nuvens. Eu não me escudo.
Leito sobre o Saara sem mágoas. Por fim,
lágrimas são pra chorar seu veludo...
O que não é bom, nem sempre é ruim.
Em quais outras margens me teriam desnudo
por este frio fio me queimo, translúcido.
EU VOU TE AMAR ATÉ MORRER
Eu vou te amar até morrer
como se amar fosse cantando
como se cantar fosse calando
o amor que sinto por você
Eu vou te amar até esquecer
como se amar não fosse tanto
como se lembrar fosse meu canto
que eu vou te amar até morrer
Eu vou te amar e amar sofrer
como se amar um amor fosse assim
como se nunca houvesse fim
Eu vou te amar e bem querer
eu nos teus braços amanhecendo
como se o amor fosse nascendo
AOS
TEUS
PÉS
Ainda que o nosso amor, raivoso cão,
pouco depois da pele em febre se lançasse
louco no avesso do que foi a paixão
em aço, veneno, engasgue, desenlace...
Ainda que sim! Eu te pedisse perdão!
E a água do mar revolto se acalmasse
na abissal encosta da minha oração,
e, aos teus pés, ateu eu me ajoelhasse...
Ainda que a tua dor cessasse ou não,
e amar-te no fim sem que jamais alcançasse
a onda nas pedras dessa maré sem chão.
Ainda assim, meus versos, minha canção,
e toda verdade não é mais que um disfarce
com seu enredo, seu fado e explosão!
pouco depois da pele em febre se lançasse
louco no avesso do que foi a paixão
em aço, veneno, engasgue, desenlace...
Ainda que sim! Eu te pedisse perdão!
E a água do mar revolto se acalmasse
na abissal encosta da minha oração,
e, aos teus pés, ateu eu me ajoelhasse...
Ainda que a tua dor cessasse ou não,
e amar-te no fim sem que jamais alcançasse
a onda nas pedras dessa maré sem chão.
Ainda assim, meus versos, minha canção,
e toda verdade não é mais que um disfarce
com seu enredo, seu fado e explosão!
NAS COXAS
Veja bem, meu amor, não era
bem assim esse acontecimento.
Você na ponta da modernidade
não vai mesmo admitir o tempo.
Não que eu represente menos,
todo mundo cria sua história.
Suporto as maiores banalidades,
mesmo sua falta de memória.
Você finge me esquecer e eu
nem lembro mais de você, não
não sou eu a levantar questão
Mas a discussão chegou ao seu
nível mais chulé: me devolve o livro
da Ana C. que eu largo do seu pé.
O
LOUVA-DEUS
E A SAÚVA
A poesia repousa de lua seu guarda-chuva.
No entanto, lúdico, brinca de pute o espírito:
seu louva-deus abençoando a luta da saúva
em cada canto que lavra a palavra grito,
válvula de escape, a verve, o v da vulva,
a mesma faca, a velha luva, seu clivo
doce do atrito na rima acre da uva,
qual foice, um eco, cisco no olho aflito.
Almas dionisíacas aqui dançam em brasas
a culpa na bebida de um vinho maldito
que perto demais do sol aproximou as asas.
Além dos nossos vícios o mesmo infinito
nos afundando lentamente em águas rasas,
de lama em lama, de lodo em mito.
Um comentário:
Bela postagem, meu caro!!! O conjunto de imagens e poemas está um primor, pulsante, provocativo, vibrante!!! Grata pelo convite. Abraços alados e poéticos!
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