ESSES CARRASCOS SÃO HOMENS TÃO DELICADOS
Onde você se diz inconfessável foi sempre onde me fascinou! Ultimamente tenho pensado na morte da máquina e na arte. E em como o homem depois de representar a natureza, e a si mesmo, passou a representar a máquina “morta”, superada ou em desuso. Quem nunca arremessou algo que estragou contra o mundo? O homem antes diante das coisas criadas pelo criador, depois como coisa criada, e agora criadora. O homem senhor de um botão como os carrascos desse mundo de miseráveis. Os inconfessáveis! Uns tão delicadamente nos apresentam o brilho da lâmina.
Anteontem revi Estamira. E só hoje pela manhã soube que ela tinha morrido. Tenho essa mulher ao lado de Deleuze dentro de mim. Meu Riobaldo atravessou um deserto no último mês. Sinto um sertão maior! Não! quase nunca tenho certeza do que estou fazendo. A vida é sábia e aprendi a não brigar com os caminhos dela. E a arte! Ela é a esquina do erro.
“- Perdão senhor! Eu o machuquei? Esses carrascos são homens tão delicados!” escreveu Victor Hugo. Tenho muito medo dessa relação Rodin x Camille. Particularmente não gosto de intelectuais somente porque são intelectuais. Aceito os que se despem dos tais. Viver sem rede no pensamento é terrível. Voltando aos amantes franceses, alguém analisou a obra de Rodin como um homem que caiu, e as da Camille estão em suspenso terrivelmente, eternamente caindo.
Minha poesia o que penso ou deliro tudo todas as formas, mas o que eu amo mesmo é viver simplesmente e buscar sempre uma língua que possa ser universal. Falo das relações diárias, dos afetos. Conhecimento é só o necessário do uso ou do prazer.
Às vezes perdemos ou deixamos e nos libertamos. Henry Miller, um dos grandes admiradores da poesia simbolista de Rimbaud, diz, diante disso, que o tipo Rimbaud chegará a superar tipos clássicos de comportamento; como o introspectivo e inquieto jovem estampado pelo personagem Hamlet, de Shakespeare.
"Acho que existem muitos Rimbauds neste mundo e que seu número aumentará com o tempo. Acho que o tipo Rimbaud tomará o lugar, nos próximos tempos, do tipo Hamlet e do tipo Fausto. Até que o velho mundo morra de vez, o indivíduo 'anormal' será cada vez mais a norma. O novo homem se encontrará quando a guerra e a coletividade entre o indivíduo cessar. Veremos então o tipo de homem em sua plenitude e esplendor".