onde você se diz inconfessável
foi outro dia moço
foi outro dia moço
ainda bem moço
eu com mil sonhos
no travesseiro
nem a lua se perdia
nem o sol posto
e o meu mundo
era ele todo inteiro
foi outro dia moço
eu era um garoto
raspei a barba
sem um fio primeiro
e eu não tinha
nenhuma marca no rosto
deixei parte de mim
em um banheiro
foi outro dia
quando poço era poço
e era um lugar
proibido no terreiro
minha mãe
gritava para o almoço
‘tá na sala
aquele seu amigo moço’
eu só queria ver
o fundo do espelho
eu devia ter ouvido
algum conselho
eu sou só um homem só
se eu disser eu sou só
um homem só sem espelho
na parede e o que vejo
sempre se distancia
na medida do desejo
eu não me meço
moço eu não me perco
viver é vasto de ser
pequeno verme
o vermelho é a única cor
que morre
morre
quando o amor acaba
a paixão evapora
algo em nós como o vermelho
sempre vai embora
o vermelho lodo
ferrugem
no que ruge
fogo entre a
brasa e a cinza
a rosa mais linda
o orvalho no princípio
do que finda
o vermelho pequeno verme
cor primeira
é também a derradeira
na distante cordilheira
ou nos versos do poeta
ontem ali mesmo
além da ribeira
o vermelho arte pop
punk no cabelo
do velho
que caiu
grito que do céu da boca
partiu como uma canção rouca
viajando em direção a marte
o vermelho mais distante ainda
de uma estrela gigante
sem saber errante
que alguém ousou pisar na lua
e agora e para sempre
o homem
ficou mais triste na rua
no escuro
onde estava você quando de repente esfriou
e já era noite?
seu olhar deveria dizer seus caminhos
percorridos de dias ausentes
não sei porque me parece insuportável
estar ao seu lado que já não diz
quando o que mais dói é não estar ao seu lado
não estar ao seu lado dói só de pensar
e agora você chega e eu não sei suportar
algo desespera em um despencar
revirando seus silêncios seu jeito novo sem
canção sem rumo sem direção
onde você estava quando o inverno chegou e
eu sozinho na madrugada?
sua boca bem sabia paisagens e vinhos
de sabores mais quentes
ah o uivo do lobo no peito o amor pede socorro
eu corro inseguro sem sua estrada
eu furo seu alvo eu salvo seu muro de caco de
vidro me corta seu beijo no escuro
parede
quando está tudo escuro
eu tenho sede
onde você se diz inconfessável
onde você se diz inconfessável
foi sempre onde me fascinou
e eu vou por todas as cidades
Bogotá Paris Roma Moscou
tolo amante implorando de joelhos
seu carinho abraçado de ventos
e meus olhos reaprendendo outras
palavras de feridas e silêncios
feito diamantes em crepúsculos
meus olhos em lágrimas que caem
busco imagens suas depois de ter
virado as páginas delineando vultos
você dormindo de lado revirando
e chegando ao meu sono de bruços
vermelho
eu não sabia que amar
doía tanto
nem que partir deixava
tanto pranto
sou desses homens soltos
sozinho
desde nascido menino
não me adivinho
entre os meus olhos outros
mais castanhos
vejo verdes desejos
azuis estranhos
se eu dissesse que amei
aquele gesto
e ainda carrego
mas não confesso
meu corpo ali parado
e o oceano
não soube responder
também te amo
falei do encontro das águas
com o rochedo
do sol deixando em tudo
o seu vermelho
COMPRE O SEU AQUI