A
cor que você não vê
Estava
apavorado
Os
olhos implorando silêncio
De
um dos filhos que ainda
Relutava
no colo da mulher
Ele
entrou, fechou a porta
E
ficou encostado
Ali
mesmo amparado
Do
que tinha passado
Do
que tinha escapado
Algo
nele agradecia
Ao
seu senhor bom Deus
Por
ele estar vivo
Só
ele mesmo sabia de tudo
E
de novo algo nele agradecia
Agradecia
estar em casa
A
mulher ajeitando
O
filho entre os outros
Agradecia
e até sorriu
Do
seio de fora dela
Ela
não conseguiu sorrir
Tinha
era lágrima de tanto
Tinha
era mágoa de sobra
Mas
não falou nada
Foi
e abraçou seu homem
Ele
fechou os olhos na sua dor
Ela
abriu os dela na revolta
Já
ia pra mais de mês
Sem
os filhos descerem pra escola
E
quase nada pra comer
Porque
vai para escola comer
Pra
depois saber e não saber
Fazer
as contas dessa vida
Encontrar
os números
Fazer
parte dos números
O
que se vive na favela
Não
vai aparecer na novela
Pode
desligar sua tevê
Ninguém
vai ligar
Quando
você morrer
Ele
sabia do perigo
Mas
antes de amanhecer
Um
pai tem o direito sagrado
De
sair de casa
Para
procurar trabalho
E
assim ele fez mais uma vez
Tem
bem mais de ano
Todo
dia, mês a mês
Ele
vai à busca
Do
que lhe fora roubado
A
polícia cercando a área
Quem
saía quem chegava
Ele
não teve tempo de correr
Foi
pego pela cor
A
cor que você não vê
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