O
homem invisível
Eu
me tornei um homem invisível
Aos
poucos e em partes
Primeiro
foram minhas mãos
Um
dia ao tentar tocar meu rosto
Elas
tinham desaparecido
Passei
a esconder as mãos
Cruzando
os braços
Enfiando-as
nos bolsos
Ou
como se estranhamente estivessem
Encontradas
atrás de mim
Depois
foram meus olhos
Numa
manhã cinza
No
espelho do banheiro
Dei
com duas neblinas
E
terríveis despenhadeiros
Deixei
de olhar pelos meus olhos
Achava
bom ouvir conselho
A
pagar por eles por cartas
Por
desespero por certo
O
melhor era alguém ver por mim
Fui
injustamente acusado
E
não consegui dizer nada
No
espelho do quarto
Assustado
não tinha mais língua
A
poesia sumiu no céu da boca
Passei
a conversar só
Com
meu próprio pensamento
Encostei
a porta em silêncio
Talvez
fosse melhor assim
Ninguém
mesmo saber de mim
Aos
trinta anos eu era um homem
Completamente
invisível
Sem
mãos sem olhos sem língua
Nos
almoços de família
Todos
falavam crianças corriam
Pela
casa eu não tive meus filhos
Se
um menino caia
Ou
se alguém se assustava
De
repente um barulho na escada
E
ninguém sabia o que via
Era
eu o invisível fantasma
Sentado
à mesa da melancolia
Podem
contar suas histórias
O
mesmo cotidiano ordinário
Amassado
mal passado de glória
Não tenho nenhum relicário
No que todo mundo é vário
No meio do caminho distante
Podem
brindar ao sombrio
O
futuro de qualquer espumante
Um comentário:
Me parece que todos somos um pouco homem invisível, ora querendo ser notados outra nem tanto.
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