VOLUNTÁRIOS DA PÁTRIA
Os meninos nas calçadas anunciam
mais um dia de perplexidades.
O trânsito cresce num vai e vem...
A cidade não tem tempo pra luto!
As fragilidades em pânico eu escuto!
O mendigo nos degraus da igreja!
Entre uma coisa e outra as ruas
nos estreitam com suas bancas
que esperam os jornais insepultos.
A ambulante garante tudo.
Grita frenética, quase chora: - Não era a hora...
Os peitos em farto leite de quem perdeu
Somente meu amigo Carlos vislumbra
‘Para esquecer um grande amor,
ou seja lá o que for esse negócio’!
Assim ele dá sinal para o ônibus!
Assim a vida nos surpreende
e nos impele as distâncias...
Eu poderia dizer que bem sei!
A vida assim assina estridente!
Nascer é pelas ventas!
Sacode essa dor em migalhas!
O amor já foi! Ô, meu amigo,
olha essa gente nossa cansada!
Mas o motorista do ônibus
sabe o caminho a tomar... Nos levar!
Ah! Tristeza tem essas risadas:
A tinta é branca e sai!
A rima é tonta e cai!
Você se apronta, abre a porta e vai.
CÊ
Cê tá de cara
Pura malícia
Sinal de trânsito
Menino de rua
Cê vai na sua
Dentro da noite
Bela baila perdida
Cê leva a vida
Cê tá na calada
No centro da sala
Não tem saída
Por onde a razão
Secou seu peito
Cê vai sem jeito
Cê tá sem fala
Bandido, polícia
De medo ou espanto
Não pede socorro
Cê desce o morro
Império do crime
Face doida erguida
A fé perde por nada
Cê tá nessa escada
E o eco da jornada
Na navalha-ilha
De longe a ficção
É puro deleite
Cê não se queixe
Lágrimas não fazem barulho
essa água grita por dentro
e vai ao seu correr sem tempo
Um minuto é pouco pro mundo
quando se morre a cada segundo
Terá silêncio mais profundo?
E correr assim nos espreita
a folha em branco sobre a mesa
Os homens passam sem certeza
Na tarja preta das palavras
choram crianças fotografadas
Não é remédio forte. É tarde
branca sem saber no escuro
No mar distante que eu mergulho
lágrimas não fazem barulho
A MULHER DEBAIXO DO VIADUTO
A mulher debaixo do viaduto
espera o seu homem que foi
quando a noite chegava
a mulher debaixo do viaduto
espera o filho que foi seu
quando a noite chegava
quando a noite chegava
a mulher debaixo do viaduto
tecia minuto a minuto
a certeza do susto
a aranha que ria
o galo e a sua cantoria
mulher quando ama pressente
o amor torna as mulheres videntes
só às vezes elas sonham
e abrem janelas nesse mundo de homens
são pais são filhos são irmãos
são seus homens
COPACABANA
Janelas cansadas dos meus olhos
distantes dos meus olhos cansados
janelas dos meus olhos distantes
de dentro do que eu era antes
Não viu a estrada meus passos cansados
a estrada dos meus passos errantes
das janelas cansado ou nem isso
eu vejo o pequeno viajante
Vai pela estrada dos meus olhos
cansadas janelas dos meus olhos distantes
vai distante das janelas cansadas
vai pela estrada dos meus olhos
O LADO VELOZ
No coração do Brasil
4Oº
azul anil
dez, logo são mil
e o homem-ninguém
vil , morto por fuzil
partiu sem dizer a-deus.
No coração do Brasil
...um psiu!
e olha lá um palhaço
contando a mesma piada
morrendo no final da charada
diante de D-E-U-S.
No coração do Brasil
nem sempre é tropical
às vezes fica tão cinza
nos olhos da menina
dos olhos do menino
perdidos nos meus.
No coração do Brasil
seus negros nervos de aço
comandam o espetáculo
a cigana, o oráculo
o lado veloz do abraço
lembrará os seus.
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