HISTÓRIA DA RAINHA MORTA
‘De noite, em doces sonhos que mentiam,
de dia, em pensamentos que voavam’.
Camões
que a vida ela só conheceu plebeia:
de Castela para Portugal vinha
sem o oráculo que nos adivinha,
entre as brancas flores sem ter
ideia
sonhar solitária feito azaleia.
Ah! O Amor em peito tão juvenil!
De sorte, e ainda assim, um
triste engano.
Se maior, o reverso lado é mais
vil.
Sim, uma rainha morta no covil!
Desenredo de quem se fez tirano,
as mãos reais banhadas em sangue
humano.
Tirar Inês ao mundo determina!
O povo cochicha veredicto desejo;
- A mundana bem merece a sina!
(E os filhos?) A sentença ensina:
nos campos de batalha e além
sobejo
os ratos se incumbem do despejo.
Muitos desembainharam a mesma
espada!
A inveja sabe forjar os
impostores
que intempestivos nos roubam a
fábula.
Se houve silêncio não se ouviu
mais nada:
o sangue correu entre as brancas
flores
manchando pra sempre os brutais
atores.
‘De noite, em doces sonhos que mentiam,
de dia, em pensamentos que voavam’.
Não direi coisas que eles não
sabiam.
Morreram todos que escondidos
riam:
enquanto os assassinos a
açoitavam,
ela lembrava os versos que juntos
cantavam...
Mas, eis o príncipe, e a coroa
dela,
e um amor onde a espada não
corta.
O seio da flor, que branco lhe
deu donzela,
exala o perfume que a fez mais
bela...
Tantas muralhas e nem uma
porta:
- Agora é tarde, Inês é morta!
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