domingo, 3 de dezembro de 2017

Agora é tarde, Inês é morta!

HISTÓRIA DA RAINHA MORTA
‘De noite, em doces sonhos que mentiam,
de dia, em pensamentos que voavam’.
        Camões
  
Sei a história de uma linda rainha
que a vida ela só conheceu plebeia:
de Castela para Portugal vinha
sem o oráculo que nos adivinha,
entre as brancas flores sem ter ideia
sonhar solitária feito azaleia.

Ah! O Amor em peito tão juvenil!
De sorte, e ainda assim, um triste engano.
Se maior, o reverso lado é mais vil.
Sim, uma rainha morta no covil!
Desenredo de quem se fez tirano,
as mãos reais banhadas em sangue humano.

Tirar Inês ao mundo determina!
O povo cochicha veredicto desejo;
- A mundana bem merece a sina!
(E os filhos?) A sentença ensina:
nos campos de batalha e além sobejo
os ratos se incumbem do despejo.

Muitos desembainharam a mesma espada!
A inveja sabe forjar os impostores
que intempestivos nos roubam a fábula.
Se houve silêncio não se ouviu mais nada:
o sangue correu entre as brancas flores
manchando pra sempre os brutais atores.

‘De noite, em doces sonhos que mentiam,
de dia, em pensamentos que voavam’.
Não direi coisas que eles não sabiam.
Morreram todos que escondidos riam:
enquanto os assassinos a açoitavam,
ela lembrava os versos que juntos cantavam...

Mas, eis o príncipe, e a coroa dela,
e um amor onde a espada não corta.
O seio da flor, que branco lhe deu donzela,
exala o perfume que a fez mais bela...
Tantas muralhas e nem uma porta:   
- Agora é tarde, Inês é morta!

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