DESCONSTRUINDO ÉDIPO
Trago minhas mãos feridas
Busco liberdade, poesia
De fato não quero nada
Só calar a voz com música
Já que só encontrei a Dor
Veio me avisar o amanhã
E a minha mãe repetindo
Silêncio depois palavra
A outra era bem mais jovem
Mas sabia de eternidades
Reverberando tristezas...
Dizia: - Água, por favor, água!
Faziam o quê ali? Agora
Elas se confundiam
E juro, tinham a mesma voz:
- Tua cabeça está ferida;
mãos e pés sangram. Nem sentes!
Venho do deserto do teu sono
pra acordá-lo deste pântano
Junta tuas coisas e partes.
Minha irmã vivia consigo
Conhecia as noites de tantas
- Não podes ficar aqui!
Acorde! Nosso pai morreu!
O PAI ESTÁ MORTO! O PAI!
Definitiva e materna
Minha mãe inconformada
Implorando estrelas, viúva
Jogou-se uma vez aos meus olhos
- Não fujas mais dos teus sonhos!
E de novo a outra entre nós
Protegendo-me desafiava:
- Pobre criatura infeliz,
pode um homem fugir da dor
se ele já nasce culpado?
Só uma mulher achar que um
homem
caminha impunemente.
Assim um homem não caminha!
O homem é triste e mal goza
os segundos de prazer.
(Como um touro indomável
caminhei preso na arena:
Na sede de Madalena,
lágrimas. No riso de Evas
entre relâmpagos, trevas)
Depois sem que eu dissesse
Falou triste respondendo:
- Quando o corpo se afeiçoa
ao algoz que se aproxima,
eu já não posso ajudá-lo.
- Espere! Não me abandone!
Eu sou culpado! Minha culpa!
Sim! Meu pai era o general
Mal lhe conhecia, bem mal.
Negro sonho de menino.
- Qual o filho não amou sua mãe
e por ela matou o pai?
Nem conheces vosso pai!
Foi que apontou para o corpo.
- O que vês é um impostor!
Aproximei-me do corpo
e estranhamente toquei vestes,
medalhas. A vida é breve,
a morte, bem, não existe.
Já não estamos todos mortos?
Assim de areia e tempo ela
De guarda então se rompeu
Na ampulheta do mistério
A velha do chão viva
E dos trapos da batalha
- Meu filho, agora sou tua!
Vem! E possuas o meu corpo
pra que se cumpra a desgraça!
Podes ver nua a minha alma,
pois sou a primeira mulher!
Ela sabia que eu sabia que ela
Me engolia, me partia e dava
Me comia e me cagava
Me limpava e me paria
E ela ria, ria das mulheres
De repente amaldiçoava
Jogava na cara coisas
Eu decidido em partir
Sem mais existir o dia
- Vai fugir dos teus gerados?
Teus filhos são teus irmãos!
- Qual o filho não amou sua mãe
e assim seu pai não matou?
Os meus olhos bem vejam
ainda brilham em minhas mãos!
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